quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

— Tu já parou para pensar no futuro?
— Como assim? — ele me olhou com aquela cara de sempre, aquela que me faz sentir como a criatura mais estranha do mundo.
— É sabe, com o que você vai fazer, com quem pode estar…
— Alice, nós temos 17 anos, pelo amor de Deus!
— Mesmo assim, eu penso sabe? Já pensei em como seria entrar em uma igreja ou quem sabe me formar em alguma coisa que não desse para tirar uma profissão só para cometer o erro… Ou talvez daqui a, quem sabe, trinta anos encontrar um velho amor e me apaixonar de novo.
— Bom, eu não. Eu quero ter quantas mulheres for possível, e quem sabe nunca me apaixonar. É seria uma boa. Quem sabe ter bastante dinheiro e um carro legal…
— Sério mesmo Lucas? Sério?
— Por que essa cara de reprovação?
— Porque tudo o que tu disse não poderia ser mais fútil, sabia?
— Desculpa se eu não quero uma vidinha clichê.
— Clichê? Alguém andou lendo o dicionário novamente?
— Tu fala como se fosse muito mais esperta que eu!
— E sou mesmo, oras.
—  Não é não.
— Não vou discutir, sério, não hoje.
— Eu não tô discutindo, estou afirmando que estou certo, apenas isso.
— Tudo bem. Tudo bem. Mas nunca pensou em mudar algo, a vida de alguém simplesmente por estar presente?
— Já mudo a tua, não?
— Não.
— Pára com isso, tu acima muito bem que eu te entendo direitinho, e te tenho na palma da mão. Na verdade se eu quisesse te beijar agora, tu não negaria.
— A gente é amigo, cala a boca.
— Mentirosa.
— Não minto, não pra ti.
Mas eu menti, não sei, naquele dia eu menti. Eu menti quando poderia ter dito o quanto gosto de ouvir a voz dele, e aquelas bobagens. Ou os olhos dele, e a risada gostosa que ele dá toda vez que eu digo alguma bobagem ou troco alguma palavra. Mas ele não precisava saber, mesmo.
— Tudo bem.
— Tudo bem?
— Sim.
— Lucas?
— Meu nome, não gasta.
— Idiota.
— Por que mulher só sabe me chamar disto? — ele riu, com aqueles dentinhos brancos e levemente para o lado. A barba mal feita se mexeu junto com as bochechas grandes e macias, e eu me obriguei a sorrir.
— Vejamos… Tu só quer dinheiro e sexo. Claro, mulher adora isso em um homem.
— O que as mulheres querem então?
— Vejamos… — eu quero algo tipo tu, mesmo idiota. É, seria perfeito. —Alguém generoso e carinhoso, mas que também fosse engraçado. Ser engraçado é muito importante sabe?
— Eu sou engraçado.
— É… não. — mas ele era, muito. Não havia uma vez que ele não tinha conseguido arrancar um sorriso de mim, mesmo quando eu tava em meus piores momentos.
— Tu fala como se fosse muito engraçada, e meiga também né?
— Eu sou uma pérola, que isso! Todo mundo sempre ri, oras.
— Eles riem da tua tentativa, e pra não perder a amiga também né, Alice?
— Ah então por favor, parem de fazer esse favor!
Fiquei emburrada. Não gostava muito quando ele me criticava ou qualquer coisa do tipo. Ele conseguia — e era o único — me diminuir tanto ao ponto de eu me sentir invisível ou quem sabe… um monte de nada.
— Não fica assim, que saco.
— Assim como?
— Assim com essa cara de brava. Fica parecendo uma porquinha.
— Já pareço uma.
— Deixa de ser idiota, velho. Tu é linda.
— E porcos voam, e o Papai Noel existe e o Coelhinho da Páscoa tá sentado ali na outra mesa, tá vendo?
— Sabe o que te falta?
— Paz? Sossego? Férias de ti?
— Não, tu precisa de um espelho.
— E tu precisa sair da frente deles.
— Não precisa me insultar, porquinha.
— Cala a boca, gordo.
— Isso é excesso de gostosura… Agora vem aqui.
— Quê?
— Quero te dar um beijo, oras.
— E eu quero te dar um tapa, mas a gente não pode fazer tudo o que quer né?
— Se eu te beijar, eu vou apanhar?
— A chance é bem grande sabe?
— Então eu me arrisco. […]
Camila Reis

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