segunda-feira, 9 de abril de 2012

Eu te esperaria sempre segurando um urso de pelúcia, porque nunca saberia o que comprar. Certamente você negaria as flores por serem clichês e abominaria as caixas de bombons por engordarem. Você aceitaria o presente com um sorriso no rosto, embora em sua cabeça aquilo já começasse a se tornar repetitivo. Mas você nunca reclamaria. Não em voz alta, não para mim. Pelas ruas, andaríamos distantes um do outro. Eu com as mãos nos bolsos da minha calça e olhos voltados para baixo, você brincando com aquilo em que gastei meus últimos centavos. As pessoas passariam por nós e te achariam linda, enquanto eu nem seria notado. Você gargalharia sozinha por achar a situação estúpida, quebrando o silêncio entre nós. Eu riria também, não pela graça do momento, mas pela sua risada ser contagiante. Correríamos para sorveteria ao perceber que o sol estava se pondo, para chegarmos a tempo de comprar a mesma coisa de sempre: o maior milk shake de morango. E mesmo que eu não gostasse de morango, não importaria. Sentaríamos na beira da calçada e brigaríamos pelo copo de sobremesa. Você diria coisas na intenção de me ofender, eu retrucaria com frases clichês, porém perfeitas para o momento. Eu ficaria com receio de ter falado demais ao te ver toda corada. Alguma senhora daria um largo sorriso ao passar e ver aquela cena, imaginando o que viria depois. Ela estragaria totalmente o clima, deixando-nos sem saber o que fazer. Voltaríamos a andar sem um destino em mente, apenas para ter a companhia do outro. Passaríamos por aquele bar de esquina que toca músicas terríveis, onde haveria uma dúzia de homens te desejando descaradamente. Eu me irritaria e você me acharia a pessoa mais besta do mundo por estar com ciúmes deles. Perceberíamos então que o sorvete acabara e fingiríamos certo desapontamento, embora estivéssemos aliviados por ele ter chegado ao fim. Nos aproximaríamos da sua casa sem perceber. Sua mãe já estaria na janela observando. Não como uma vigia, mas na esperança que acontecesse algo entre nós. Você riria ao vê-la de longe, eu brincaria chamando-a de sogra. Você, de certa forma, se espantaria com a brincadeira. Ficaria se remoendo, pensando se era ou não uma indireta. Eu notaria sua expressão confusa e aproveitaria o momento para dizer tudo que planejei nos últimos tempos. Mas cada segundo gasto pensando nas palavras certas a serem ditas, não adiantaria de nada. Pois tudo se resumiria àquelas três palavras que sempre nos renegamos a dizer.

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